Apresentação

Espaço para a apresentação e análise de estudos e pesquisas de alunos da UFRJ, resultantes da adoção do Método de Educação Tutorial, com o objetivo de difundir informações e orientações sobre Química, Toxicologia e Tecnologia de Alimentos.

O Blog também é parte das atividades do LabConsS - Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde, criado e operado pelo Grupo PET-SESu/Farmácia & Saúde Pública da UFRJ.Nesse contexto, quando se fala em Química e Tecnologia de Alimentos, se privilegia um olhar "Farmacêutico", um olhar "Sanitário", um olhar socialmente orientado e oriundo do universo do "Consumerismo e Saúde", em vez de apenas um reducionista Olhar Tecnológico.

sexta-feira, 9 de junho de 2017

QUAL YAKULT TOMAR?



Há mais de 40 anos existe no mercado brasileiro o leite fermentado de nome e marca Yakult, que promete manter o equilíbrio da flora intestinal de seus consumidores. Sendo um produto de gosto popular que chega aos incríveis números de 25 mil unidades de Yakult consumidas diariamente em 33 países diferentes. E nos últimos anos tem se reinventado e lançado novos produtos no mercado. Será que há de fato diferença entre estes produtos tão largamente explorados comercialmente?


O yakult  foi desenvolvido em 1935, no Japão, pelo Dr. Minoru Shirota, afim de  diminuir o índice de mortalidade infantil por infecções gastrointestinais, chegando a seleção de uma espécie de lactobacilos resistentes à acidez do estômago e, que por se manter vivos no intestino inibem a proliferação de bactérias intestinais nocivas, promovendo o equilíbrio da flora intestinal. Estes micro-organismos revolucionaram todos os conceitos da área de saúde preventiva e foram denominados Lactobacillus casei Shirota, e para aumentar o alcançe, foi comercializado como leite fermentado, sendo vendido em domícílio. No Brasil, chegou em 1966, e somente em 2001 foi registrado como alimento funcinonal, na categoria probióticos.

Mas afinal, o que é leite fermentado? Alimento funcional? Probióticos?

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) define leites fermentados como produtos adicionados ou não de outras substâncias alimentícias, obtidas por coagulação e diminuição do pH do leite, ou reconstituído, adicionado ou não de outros produtos lácteos, por fermentação láctica mediante ação de cultivos de microorganismos específicos.
Estes microorganismos específicos devem ser viáveis, ativos e abundantes no produto final durante seu prazo  de validade.

Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), alimentos funcionais são aqueles que produzem efeitos metabólicos ou fisiológicos através da atuação de um nutriente ou não nutriente no crescimento, desenvolvimento, manutenção e em outras funções normais do organismo humano.

E probióticos se encontra definido na RDC 02 de 2012 como "microrganismos vivos capazes de melhorar o equilíbrio microbiano intestinal produzindo efeitos benéficos à saúde do indivíduo".

As características de um microrganismo probiótico são as seguintes:
• Ter segurança no consumo;
• Pertencer à microbiota natural do hospedeiro;
• Além de sobreviver ao processo de fabricação, comercialização e consumo, deve ser resistente aos sucos digestivos e chegar vivo aos intestinos e se
desenvolver (
1x108 UFC);
• Promover efeitos benéficos comprovados cientificamente;


Legislação

Os leites fermentados são reguladas de acordo com sua identidade e qualidade conforme Instrução normativa nº 46, de 23 de outubro de 2007 do MAPA, no qual é dito que em leites fermentados por adição o produto não poderá ser submetido a tratamento térmico após a fermentação. A base láctea deve representar pelo menos 51% (cinqüenta e um por cento) massa/massa (m/m) do total de ingredientes do produto. A contagem total de bactérias lácticas viáveis deve ser no mínimo de 106 UFC/g, no produto final, para o(s) cultivo(s) láctico(s) específico(s) empregado(s), durante todo o prazo de validade. 


 Enquanto os padrões microbiológicos para alimentos são definidos conforme a RDC Nº 12, de 02 de janeiro de 2001 da ANVISA.

Contudo, os iogurtes e bebidas lácteas fermentadas são produtos de competência do MAPA, e a ANVISA responsável pela avaliação de segurança de uso e eficácia de alegações, há um acordo entre Anvisa e MAPA e quando um empresa tem interesse em usar alegação de propriedade funcional e ou de saúde em produtos que sejam de competência do MAPA, a empresa deve solicitar primeiro a avaliação da eficácia da alegação pretendida à ANVISA. Quando a ANVISA conclui essa avaliação, ela emite um parecer de aprovação ou indeferimento e envia à empresa com cópia para a área competente do MAPA. Da mesma forma, quando um novo ingrediente, inclusive probiótico, é utilizado em produtos de competência do MAPA, a empresa deve solicitar a avaliação da segurança de uso à ANVISA antes da regularização do produto no MAPA.

Fundamentos Bromatológicos

Os tipos de yakult comercializados hoje no Brasil, são indicados para públicos alvos distintos. Sendo:

 - Yakult (convencional): indicado para público infanto-juvenil por ter quantidade suficiente de lactobacilos vivos  para o efeito desejado.





- Yakult 40, presente desde 2001 no Brasil indicado para público adulto pois possui 40 bilhões de lactobacilos, 5 vezes mais que o Yakult convencional para auxiliar os adultos a manterem a microbiota intestinal equilibrada. Fator muito importante devido à diminuição da resistência e ao aumento de bactérias nocivas nos intestinos à medida que o indivíduo envelhece, devido à má alimentação, uso de medicamentos (especialmente antibióticos e laxantes) e de álcool, associados a uma vida com stress, interferem no bom funcionamento intestinal.



- Yakult 40 light, lançado em 2016 para o público adulto, contendo os 40 bilhões de lactobacilos vivos e ainda possui 30 calorias, uma redução de 41% do valor energético comparado ao Leite Fermentado Yakult convencional.
Na formulação houve substituição de parte do açúcar pela sucralose, maltitol, polidextrose e adição de pectina como estabilizante.



Discussão

No Brasil, o Yakult foi aprovado pela ANVISA em 2001 e encontra-se de acordo com a legislação vigente, como as resoluções:
ANVISA/MS 16/99,
que aprova o regulamento técnico que estabelece as diretrizes básicas de procedimentos para registro de alimentos e ou novos ingredientes.
ANVISA/MS 17/99, que aprova o regulamento técnico que estabelece as diretrizes básicas para avaliação de risco e segurança de alimentos que prova, baseado em estudos e evidências científicas, se o produto é seguro sob o ponto de risco à saúde ou não.
ANVISA/MS 18/99, que aprova o regulamento técnico que estabelece as diretrizes básicas para a análise e comprovação de propriedades funcionais e/ou de saúde, alegadas em rotulagem de alimentos
ANVISA/MS 19/99, que aprova o regulamento técnico de procedimentos para registro de alimentos com alegação de propriedades funcionais e ou de saúde em sua rotulagem.

Atualmente, a busca incessante por melhor qualidade de vida conduz muitos uma dieta mais completa, não só com redução de calorias, mas sim com benefícios, querem enriquecer sua alimentação a fim de manter um bom equilíbrio de sua saúde. E para tal, esse público possui maior exigência e procuram por respaldo científico e de órgãos reguladores que comprovem a ação proposta.
Por isso, há diversos estudos que testam Yakult e similares, afim de saber mais de seus já conhecidos benefícios e descobrir outros mais. Como por exemplo, estudos que ressaltam que o Yakult dificulta o desenvolvimento das bactérias nocivas e favorece o crescimento dos microrganismos benéficos.
Ou ainda que o referido leite fermentado diminui a concentração de substâncias tóxicas no organismo do hospedeiro, representado pela redução dos níveis de toxinas produzidas pelas bactérias nocivas através da degradação de proteínas.
Tem ainda estudos que a associam o consumo a diminuição de toxinas que favorecem o aparecimento de câncer no cólon, problemas e alergias respiratórias, entre outros.

Conclusão

Desta forma, é possível concluir que o consumo de Yakult como probióticos pode sim contribuir para o equilíbrio da flora intestinal, mas seu consumo deve estar associado a uma alimentação equilibrada, com alimentos prébiótico por exemplo, e hábitos de vida saudáveis. Contudo as diferenças entre os tipos comercializados não são muito significativas sendo muito mais uma estratégia de marketing, para aumentar um pouco o preço do produto e as vendas, visto que hoje divide o mercado com outras marcas. Por isso, é importante ressaltar que a ANVISA, embora reconheça a eficácia de alimentos contendo lactobacilos, que é o caso do Yakult, não permite que a propaganda alardeie benefícios além de "contribuir para o equilíbrio da flora intestinal".


Referências Bibliográficas
-         Anvisa – Resolução RDC nº 12, de 02 de janeiro de 2001.
-         Anvisa – Resolução RDC nº 16, de 03 de dezembro de 1999.
-         Anvisa – Resolução RDC nº 17, de 03 de dezembro de 1999.
-         Anvisa – Resolução RDC nº 18, de 03 de dezembro de 1999.
-         Anvisa – Resolução RDC nº 19, de 03 de dezembro de 1999.
-         Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento- Instrução normativa nº 46, de 23 de outubro de 2007.
-        http://www.farmacam.net.br/Literatura%20Alopatia%20FARMACAM/monografias%20FARMACAM/lactobacillus_casei%20farmacam.pdf (Acessado em 24/05/17).
-         http://mundodasmarcas.blogspot.com.br/2006/06/yakult-lactobacilos-vivos.html (Acessado em 24/05/17).
-         http://www1.folha.uol.com.br/fsp/dinheiro/fi1511200919.htm (Acessado em 04/06/17).
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Kan Shida, Junko Kiyoshima-Shibata: Peptidoglycan from lactobacilli inhibits interleukin-12 production by macrophages induced by Lactobacillus casei through Toll-like receptor 2-dependent and independent mechanisms. Yakult Central Institute for Microbiological Research, Tokyo, Japan.
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-         E. Guillemard, F. Tondu, F. Lacoin and J. Schrezenmeir. “Consumption of a fermented dairy product containing the probiotic Lactobacillus casei DN-114 001 reduces the duration of respiratory infections in the elderly in a randomised controlled trial.” British Journal of Nutrition (2010), 103, 58–68.

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