Apresentação

Espaço para a apresentação e análise de estudos e pesquisas de alunos da UFRJ, resultantes da adoção do Método de Educação Tutorial, com o objetivo de difundir informações e orientações sobre Química, Toxicologia e Tecnologia de Alimentos.

O Blog também é parte das atividades do LabConsS - Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde, criado e operado pelo Grupo PET-SESu/Farmácia & Saúde Pública da UFRJ.Nesse contexto, quando se fala em Química e Tecnologia de Alimentos, se privilegia um olhar "Farmacêutico", um olhar "Sanitário", um olhar socialmente orientado e oriundo do universo do "Consumerismo e Saúde", em vez de apenas um reducionista Olhar Tecnológico.

domingo, 18 de junho de 2017

Panax Ginseng: É um medicamento com efeito neuroprotetor? Está presente no Guaraviton?

             


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 O Panax Ginseng é um medicamento fitoterápico adaptógeno rico em ginsenosídeos. Uma das suas propriedades farmacológicas mais atraentes deve-se a ativação de mecanismos neuprotetores e modulação das funções cognitivas. A bebida energética Guaraviton possui duas formulações. Na primeira delas, é possível notar como destaque em seu rótulo a palavra Ginseng, mas em sua tabela de ingredientes existe apenas a adição de aroma de Panax Ginseng. Na segunda formulação há adição do extrato de Ginseng Brasileiro, onde não há especificação de qual espécie pertence o extrato utilizado na formulação. É possível obter os efeitos farmacológicos do Panax Ginseng ingerindo Guaraviton?   

Introdução:

    O Panax Ginseng é uma raiz nativa do norte da china e da coreia usada há séculos na medicina tradicional chinesa. Essa raiz pode ser classificada pelos seus diferentes métodos de processamento e concentrações de compostos bioativos chamados ginsenosídeos (saponinas triterpênicas). O Ginseng é conhecido mundialmente pelas suas propriedades adaptógenas. Ou seja, possuem propriedades que melhoram a nossa saúde e a capacidade de adaptação a situações extremas de stress, seja emocional, físico ou químico. Pesquisas científicas confirmam algumas de suas funções como vasodilatador, neuroprotetor, imunomodulador, antiinflamatório, antioxidante, antienvelhecimento, anticancerígeno, antidiabético e antidepressivos.

Fundamentos Bromatológicos e Discussão:
 
   Uma das propriedades mais atraentes do Ginseng deve-se a ativação de mecanismos neuroprotetores e modulação das funções cognitivas. Como por exemplo, o Ginsenosídeo Rb1 que demostra aumentar a sobrevivência celular neuronal, proteger o hipocampo do dano isquêmico, aumentar a fluidez da membrana de células corticais, aumentar absorção de colina nas terminações colinérgicas cerebrais, modular a liberação e absorção de acetilcolina, que diz respeito ao processo de aprendizagem e memória. O ginsenosídeo Rg3 promove a ação fagocitária da microglia na remoção da proteína fibrilar α-amilóide que se acumula nos neurónios até provocar a morte celular, uma característica da doença de Alzheimer.
    Ao nível celular, sabe-se que determinados ginsenosídeos (Rb1, Re e Rg) ativam os canais de Ca2+ do endotélio promovendo a hiperpolarização celular e, consequentemente, a libertação de óxido nítrico (NO).  Este, por sua vez induz o relaxamento do músculo liso da parede do vaso, provocando a vasodilatação, diminuindo assim a pressão arterial.
   Além dos ginsenosídeos citados acima, já foram identificados mais de 100 diferentes tipos com propriedades farmacologias demonstradas através de estudos utilizando animais, humanos e cultura de células. Entretanto essas substâncias bioativas quando administradas por via oral não são bem absorvidas no intestino, logo necessitam estar incorporadas a uma formulação a base de lipídeos, ou ser coadministradas com outras substâncias que aumentem sua absorção. Logo, para obter os benefícios dessa espécie é necessária sua incorporação em uma forma farmacêutica desenvolvida para promover a absorção.
   Os estudos toxicológicos do Panax Ginseng definiram a dose diária de 5 a 30 mg de ginsenosídeos totais, esse medicamento deve ser tomado no máximo por 3 meses.  

 E o Ginseng adicionado ao Guaraviton, possui as mesmas funções do medicamento Panax Ginseng?

   Como é possível notar nas imagens das embalagens abaixo, a bebida Guaraviton é comercializada de duas formas distintas. O primeiro rótulo apresenta o Ginseng coreano (Panax Ginseng) apenas como aroma adicionado, que não confere a bebida as características farmacológicas dos ginsenosídeos, pois não há presença deles na substancia utilizada como aromatizante. Mesmo se fosse adicionado um extrato rico em ginsenosídeos não seria possível garantir a absorção dessas substâncias somente incorporando-as na formulação da bebida energética devido as suas propriedades farmacocinéticas citadas anteriormente.

      Rótulo 1: Guaraviton com aroma de Ginseng

    Na segunda composição apresentada, há presença de extrato de Ginseng Brasileiro que compreende as espécies do gênero Pfaffia que possuem mais de 27 espécies distribuídas no Brasil. Como o segundo rótulo não especifica qual ou quais espécies do gênero são utilizadas na formulação do extrato, é difícil realizar uma avaliação bromatológica desse produto. Considerando que as características farmacológicas das espécies desse gênero e suas propriedades farmacocinéticas e toxicológicas ainda não estão bem definidas, não é seguro utilizar esse extrato adicionado a uma bebida de amplo consumo.


                                                                     Rótulo 2: Guaraviton com extrato de Pfaffia

   Portanto, o produto da forma que é apresentado causa confusão no consumidor, que o ingere fazendo uma assimilação errada entre o Ginseng Coreano (Panax Ginseng) medicamento com funções adaptógenas e neuroprotetoras e a bebida que possui apenas o aroma de Ginseg Coreano, Ou a adição de outro tipo de ginseng (gênero Pfaffia), que simplesmente não é semelhante ao Panax Ginseng, logo não possui suas propriedades.   

Legislação:
  
  Segundo a RDC Nº. 273, DE 22 DE SETEMBRO DE 2005 O Guaraviton é definido como Composto Líquido Pronto para o Consumo, e quando é adicionado aroma (s) nesse tipo de produto deve-se acrescentar a palavra “Sabor” ou “sabor Artificial” seguido do nome do aromatizante usado.
    No regulamento técnico para medicamentos fitoterápicos a palavra Ginseng está especificada como nome popular do Panax Ginseng. 
   

Conclusão:

  A nomenclatura Ginseng é definida como nome popular do medicamento fitoterápico Panax Ginseng, que possui muitas características farmacológicas das quais se destaca sua propriedade neuroprotetora. Logo, a apresentação do nome Ginseng no rótulo da bebida Guaraviton gera uma assimilação errada entre a bebida e as propriedades do medicamento. Portanto, devem ser feitas as modificações na embalagem do Guaraviton indicando que possui “sabor de Ginseng” como definido na RDC Nº. 273, DE 22 DE SETEMBRO DE 2005. 


Bibliografia:

Felipe Berger e Fernanda Maia, Ginseng: Informação nutricional ou alegação em saúde? Disponível em: <http://bromatopesquisas-ufrj.blogspot.com.br/2013/08/ginseng-informacao-nutricional-ou_11.html>. Acesso em:10 de junho de 2017.
Patrícia Pimenta, Guaraviton: será que realmente dá energia? Disponível em: < http://bromatopesquisas-ufrj.blogspot.com.br/2010/11/alimentos-funcionais-guaraviton-sera.html>. Acesso em:10 de junho de 2017. 

Ginseng. Disponível em:< http://florien.com.br/wp-content/uploads/2016/06/GINSENG.pdf>. Acesso em:15 de junho de 2017.


RDC Nº. 273, DE 22 DE SETEMBRO DE 2005. Disponível em:< http://www.saude.rj.gov.br/comum/code/MostrarArquivo.php?C=MjIzOA%2C%2C>. Acesso em: 10 de junho 2017.


RATES, S.M.K; GOSMANN, G. Gênero Pfaffia: Aspectos químicos, farmacológicos e implicações para seu emprego terapêutico. Revista Brasileira de Farmacognosia, Vol. 12, N. 2, P. 85-93, Jul-Dez 2002.



ROKOT, N.T; KAIRUPAN, T.S; CHENG, K.C; et al. A Role of Ginseng and Its Constituents in the Treatment of Central Nervous System Disorders. Hindawi Publishing Corporation Evidence-Based Complementary and Alternative Medicine, http://dx.doi.org/10.1155/2016/2614742, Vol. 2016, N. 2614742, P.1-7, 26 julho 2016. 

3 comentários:

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  3. Caso o ginseng inserido na formulação do Guaraviton fosse um extrato padronizado de Panax Ginseng, poderia-se obter uma associação interessante de produtos naturais para uma bebida de proposta energética. Com a Paullinia cupana se teria a ação das metilxantinas cafeína e teobromina, diminuindo fadiga motora e psiquica. Com Panax Ginseng, obteria-se efeitos benéficos dos ginsenosídeos como o Rb1, que possui ação neuronal relacionada aos processos de aprendizagem e memória, além de promover liberação de NO nos vasos sanguíneos, diminuindo a presão arterial.
    Porém, a formulação atual do Guaraviton realiza uma associação de produtos naturais que não tem um sentido real, além de aludir aos efeitos do ginseng coreano erroneamente. Com o extrato de Pfaffia, não é possível estabelecer os principios ativos presentes, uma vez que não se sabe as espécies ali presentes.
    A legislação vigente sobre produtos alimentícios pode ser melhorada neste aspecto, exigindo que os rótulos dos produtos sejam não somente claros, mas também precisos, sem aludir a efeitos benéficos que não possam ser provados.

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