Apresentação

Espaço para a apresentação e análise de estudos e pesquisas de alunos da UFRJ, resultantes da adoção do Método de Educação Tutorial, com o objetivo de difundir informações e orientações sobre Química, Toxicologia e Tecnologia de Alimentos.

O Blog também é parte das atividades do LabConsS - Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde, criado e operado pelo Grupo PET-SESu/Farmácia & Saúde Pública da UFRJ.Nesse contexto, quando se fala em Química e Tecnologia de Alimentos, se privilegia um olhar "Farmacêutico", um olhar "Sanitário", um olhar socialmente orientado e oriundo do universo do "Consumerismo e Saúde", em vez de apenas um reducionista Olhar Tecnológico.

domingo, 18 de junho de 2017

O uso do óleo de coco com finalidade de emagrecimento pode trazer riscos a saúde?


O óleo de coco é uma mistura de 6 a 20 carbonos de cadeia saturada, principalmente ácidos graxos, como o ácido láurico e o ácido mirístico. É muito utilizado pela indústria alimentícia e comumente utilizado como base para cremes e pomadas, em algumas formas farmacêuticas sólidas e como plastificante. No entanto o óleo de coco tem sido recomendado para outras finalidades como hidratação capilar, redução do LDL, o “colesterol ruim” e até controle dos níveis de açúcar no sangue.

Introdução 



O óleo de coco tem sido muito procurado por pessoas que querem emagrecer de maneira saudável visto que é amplamente promovido por ser um produto 100% natural e ter propriedades relacionadas ao fortalecimento do sistema imunológico, facilidade na digestão e a absorção de nutrientes. Muitos nutricionistas e médicos orientam seus pacientes a consumir o óleo de côco para emagrecer, recorrendo a afirmação da eficácia para este fim, porém não há qualquer evidência nem mecanismo fisiológico comprovando que o óleo de coco leve à perda de peso como citam alguns desses profissionais.



Aspectos bromatológicos


O óleo de coco virgem é um produto que deriva do fruto da espécie Cocos nucifera L. e solidifica-se abaixo de 25°C. É prensado a frio, não é submetido ao processo de refinamento e desodorização, sendo extraído a partir da polpa do coco fresco maduro por processos físicos, passando pelas etapas de trituração, prensagem e filtração. Contém uma grande proporção de ácidos graxos de cadeia média, principalmente o ácido graxo saturado ácido láurico, este, em proporção na faixa de 45% a 50% e essas gorduras láuricas, no caso do óleo de coco, são resistentes a oxidação não enzimática, que não são normalmente estocados no tecido adiposo, portanto, auxiliariam diminuindo a taxa de metabolismo basal. Além disso, diz-se que o ácido láurico tem efeito
termogênico, o que ajudaria na perda de peso e gordura abdominal.



Legislação

O óleo de coco é definido pela Resolução nº 482, de 23 de setembro de 1999 da ANVISA, como  óleo comestível obtido do fruto de Cocos nucifera (coco) através de processos tecnológicos adequados. E para ser classificado como tal, deve ser obtidos pelos processos de extração e refino para ser considerado próprio para o consumo humano. Em relação a sua composição, este tem apenas um ingrediente obrigatório que é o próprio óleo de coco.
Deve ter aspecto límpido e isento de impurezas a 40 ºC, cor, odor e sabor característicos.
As características físicas e químicas devem atender as especificações a seguir:


Composição de ácidos graxos presentes no óleo de coco:  

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O produto pode ser encontrado em diversos lugares e é produzido por diferentes marcas, tendo-se como exemplo o Óleo de Coco Extravirgem - Copra Coco, não há nenhuma informação de como o produto deva ser utilizado em seu rótulo porém é comum encontrar “dicas” e sugestões de como fazer uso do produto nos sites de venda, mesmo que no Brasil não exista uma recomendação oficial para tal, o Ministério da Saúde apenas adverte que não existem evidências científicas comprovadas de que este alimento previna, trate ou cure doenças.

Discussão

Apesar da grande propaganda, divulgação em blogs, estudos em artigos científicos e recomendação por alguns profissionais da saúde, o uso do óleo de coco como uma maneira natural de emagrecer e manter uma boa forma não tem fundamentos elucidados visto que não há evidências suficientes que atribuam essa característica ao produto.
A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO) se posicionaram oficialmente sobre o uso do óleo de côco para perda de peso e não recomendam o uso regular de óleo de coco como óleo de cozinha assim como era feito anteriormente com o óleo de soja, devido ao elevado teor de gorduras saturadas e pró-inflamatórias no óleo de côco. O uso de óleos vegetais com maior teor de gorduras insaturadas (como soja, oliva, canola e linhaça) com moderação, tem melhor resposta na redução de risco cardiovascular.
A Associação Brasileira de Nutrologia também se posicionou sobre o assunto constatando que quando o óleo de coco é comparado a óleos vegetais menos ricos em ácido graxo saturado, recente revisão mostrou que ele aumenta o colesterol total (particularmente o LDL-colesterol) o que contribui para um maior risco cardiovascular.
A Associação Americana de Cardiologia também afirma que o óleo de coco aumenta o colesterol LDL, uma causa de doenças cardiovasculares, e não tem efeitos favoráveis compensatórios conhecidos, e se posiciona contra o uso do óleo de coco.
O ideal é que cada pessoa seja orientada a usar o produto, de acordo com sua individualidade e sempre observando todos os fatores que podem levar a um futuro problema de saúde causado por uma decisão radical. Seria adequado ter um equilíbrio entre o uso destes óleos quando o paciente não tem qualquer problema relacionado a um risco cardiovascular aumentado, sendo então liberado o uso deste óleo com moderação e por um período de tempo determinado.

Conclusão

Considerando a falta de evidências científicas que comprovem os benefícios no uso terapêutico do óleo de coco e o risco potencial para a saúde, deve-se ter um maior cuidado em relação ao que se oferece para a população como alimentos “saudáveis” e é importante deixar claro que não existem milagres para emagrecer, o correto é ter uma dieta balanceada e praticar e exercícios moderadamente.  

Referências

https://www.westonaprice.org/health-topics/know-your-fats/more-good-news-on-coconut-oil/
http://www.cfn.org.br/index.php/saiba-mais-sobre-oleos-de-coco-e-de-canola/
Dauber, Riana Augusta. Óleo de coco: uma revisão sistemática. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Medicina, Curso de Nutrição, Porto Alegre, Brasil - 2015. Disponível em: https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/129618/000974828.pdf?sequence=1


 

3 comentários:

  1. Nossa sociedade está cada vez mais em busca de hábitos alimentares mais saudáveis. No entanto, muitos desses adeptos não procuram profissionais e acabam consultando fontes de informações não confiáveis. O uso do óleo de coco no preparo de alimentos está cada vez mais difundido como alimento emagrecedor e redutor dos níveis de LDL - colesterol e glicemia. Sabe-se, contudo, que não há evidências científicas que comprovem tais informações. Muito pelo contrário, a Associação Brasileira de Nutrologia afirma que o óleo de coco aumenta os riscos cardiovasculares devido a maior quantidade de ácidos graxos saturados.
    Dessa maneira, os profissionais da saúde, têm o dever de alertar o público em geral sobre os riscos do uso do óleo de coco, informar sobre o uso correto e a respeito das informações sem bases científicas circulantes nos meios de comunicação e redes sociais.

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  2. Maria Luiza da Silveira Goncalves11 de agosto de 2017 às 20:35

    O uso do óleo de coco para tratamento da obesidade tem recebido grande destaque na mídia, fato que refletiu uma corrida dos consumidores às lojas buscando uma solução milagrosa para perda de peso. De acordo com os defensores do óleo de coco, este ajuda a prevenir e tratar uma série de condições médicas. Entretanto, é preciso ter cautela, afinal o óleo de coco é uma gordura e, como qualquer outra, quando consumida em excesso, engorda. Adeptos da Coconut diet indicam que o indivíduo deve consumir 3 colheres de sopa do óleo de coco por dia. Em uma colher de sopa há 117 Kcal e 13,6g de gordura, ou seja, mais calorias que uma colher de manteiga ou azeite.
    O óleo de coco é classificado como gordura saturada. Sabe-se que o nível de saturação determina a consistência da gordura em temperatura ambiente. Quanto maior o grau de saturação, mais dura à gordura será. No entanto, o óleo de coco é uma exceção, pois apesar de ser altamente saturado, é liquido, devido à predominância de ácidos graxos de cadeia média (AGCM). O fato do óleo de coco possuir maior quantidade de AGCM, diferentemente de outras gorduras saturadas, faz com que tenha um comportamento metabólico distinto em virtude de suas características estruturais.
    . Ao contrário dos ácidos graxos de cadeia longa, os ácidos graxos de cadeia média não participam do ciclo de colesterol e não são estocados em depósitos de gordura. No entanto, não se sabe se a substituição da gordura trans por gordura saturada, principal fonte de gordura do óleo de coco, poderá ser benéfica. Sabemos que gordura saturada está associada à elevação do colesterol plasmático total, do LDL-colesterol (lipoproteína de baixa densidade), mas também do HDL-colesterol (lipoproteína de alta densidade).
    Apesar das diversas teorias positivas sobre o óleo de coco, os estudos ainda são escassos e controversos, tanto para o perfil lipídico quanto para o emagrecimento. É importante ter em mente que a gordura saturada do óleo de coco, mesmo que com melhor composição que outras fontes de gordura saturada, deve ter seu consumo restrito. Ainda é válida a recomendação de que uma dieta de alta qualidade para saúde deve limitar a ingestão de gordura saturada (7% do valor calórico total da dieta), substituir gordura saturada por monoinsaturada e poliinsaturada, aumentar o consumo de ômega 3, fibras solúveis, vegetais e frutas.O uso de suplementos a base de óleo de coco está longe de ser um milagre para emagrecer.

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  3. Após a leitura do artigo no blog, pode-se entender que não há fórmula ou produto mágico para o emagrecimento, por mais natural que seja. O emagrecimento advém de hábitos alimentares saudáveis e exercícios. O conteúdo também aborda que o excesso de óleo de côco pode ser prejudicial a saúde, assim como qualquer excesso de qualquer natureza.
    Apesar de não existir evidências científicas que comprovem a função de emagrecimento que o óleo de côco pode proporcionar, é importante destacar que esse produto pode promover saúde quando inserido em uma dieta diária e adequada. O consumo desse óleo é muito comum na população asiática e, assim que surgiu o conceito de “Teoria lipídica do coração”, começaram os estudos a respeito do consumo desse óleo.
    Muitas pesquisas utilizando modelos animais e diversos ensaios clínicos foram conduzidos em todo o mundo usando óleo de côco. Na população asiática, vários estudos indicaram que o consumo de óleo de côco pode ser bom para o coração e não está envolvido no desenvolvimento de aterosclerose e doença coronariana. Além disso, o consumo de óleo de coco aumentou o nível de lipoproteína de alta densidade (colesterol "bom") em filipinos na pré-menopausa. No entanto, a dieta utilizada neste estudo não foi controlada e o consumo de óleo de coco foi baseado em recordatório. Enquanto isso, o óleo de côco parecia não ter efeito sobre o risco cardiovascular relacionado aos lipídios (níveis de lipoproteína A, níveis de ácidos graxos não esterificados, etc.) de pacientes com doença cardíaca coronariana. Uma vez que a maioria dos ácidos graxos saturados presentes no óleo de coco é de tipo de cadeia média (que acredita-se que seja metabolizado facilmente), não está principalmente envolvido na síntese e aumento dos níveis de colesterol no soro do sangue.
    Diversos estudos analisando a atividade antioxidante também foram realizados verificando um resultado promissor no aumento dos níveis de antioxidantes devido à presença de polifenóis, tocoferol, tocotrienol, fitosterol, fitostanol e flavonoides.
    Porém, este óleo deve ser incluso representando apenas 10% da ingestão calórica, visto que, assim como observado no artigo do Blog, a Associação Americana de Cardiologia afirma que o óleo de coco aumenta o colesterol LDL e de fato, estudos comprovam que a ingestão de óleo de côco aumenta as concentrações de HDL-C, mas também aumenta o de LDL-C. São necessários estudos de acompanhamento de longo prazo com ingestão alimentar bem caracterizada para avaliar os efeitos da ingestão desse óleo. Nenhum dado se destaca em apoiar as alegações sobre a queima de gordura e não foi demonstrado que ele influencia na termogênese ou saciedade.
    Referências:
    Carascal, Mark B. 2019. “Coconut Oil : Good or Bad for Human Health ? ( Asian and Philippine Perspective ) Review Coconut Oil : Good or Bad for Human Health ? ( Asian and Philippine Perspective ).” (September).
    Guan, By, and Yu Lim. 2020. “Coconut and COVID-19: Philippines Studying Antiviral Properties of Coconut Oil as Potential Treatment.” : 1–4. https://www.nutraingredients-asia.com/Article/2020/03/11/Coconut-and-COVID-19-Philippines-studying-antiviral-properties-of-coconut-oil-as-potential-treatment.
    Santos, Heitor O., Scott Howell, Conrad P. Earnest, and Filipe J. Teixeira. 2019. “Coconut Oil Intake and Its Effects on the Cardiometabolic Profile – A Structured Literature Review.” Progress in Cardiovascular Diseases 62(5): 436–43. https://doi.org/10.1016/j.pcad.2019.11.001.

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