Apresentação

Espaço para a apresentação e análise de estudos e pesquisas de alunos da UFRJ, resultantes da adoção do Método de Educação Tutorial, com o objetivo de difundir informações e orientações sobre Química, Toxicologia e Tecnologia de Alimentos.

O Blog também é parte das atividades do LabConsS - Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde, criado e operado pelo Grupo PET-SESu/Farmácia & Saúde Pública da UFRJ.Nesse contexto, quando se fala em Química e Tecnologia de Alimentos, se privilegia um olhar "Farmacêutico", um olhar "Sanitário", um olhar socialmente orientado e oriundo do universo do "Consumerismo e Saúde", em vez de apenas um reducionista Olhar Tecnológico.

domingo, 18 de junho de 2017

KefirReal® com Magnésio: Suplemento vitamínico e mineral ou medicamento probiótico à base de magnésio?

O produto KefirReal® com Magnésio é descrito, no site da distribuidora Biológicus, como um suplemento vitamínico e mineral com ampla variedade de benefícios à saúde. Ele contém bisglicinato de magnésio e kefir liofilizado em cápsulas gelatinosas. A ingestão recomendada é de duas cápsulas ao dia, correspondendo a 48% da ingestão diária de magnésio recomendada.
 No site da Biológicus, é apresentado como um produto que: melhora o sono, proporcionando uma sensação geral de bem estar; Atua na formação de colágeno para manter a pele saudável; Auxilia na prevenção de doenças cardiovasculares; Diminui a tensão nervosa, estresse, tensão pré-menstrual, depressão e menopausa; Previne lesões gástricas; Atua nos sistemas ósseo, glandular, urinário, nervoso, neuromuscular e cardiovascular; Participa nos processos enzimáticos e manutenção do equilíbrio osmótico; Participa no armazenamento e liberação de energia da célula.
Considerando os benefícios alegados pela marca inerentes ao uso do produto e a sua composição: seria o KefirReal® com Magnésio verdadeiramente um suplemento vitamínico e mineral?
Imagem 1. Ilustração da marca usada na divulgação do produto.



 FUNDAMENTOS BROMATOLÓGICOS:
Kefir é uma bebida fermentada, promovida por uma associação simbiótica de bactérias ácido-láticas, bactérias acéticas e leveduras. Os grãos de kefir são constituídos por uma matriz de sustentação polissacarídica e de aspecto gelatinoso, denominada kefiran, a qual atribui-se propriedades funcionais como: reduzir a constipação; inibir o aumento da pressão sanguínea e reduzir o aumento dos níveis de colesterol sérico, em modelos animais.
Tanto o kefir quanto os produtos elaborados a partir dos grãos de kefir são estudados em função de suas propriedades benéficas à saúde. Efeitos sobre a intolerância a lactose, reconstituição da flora intestinal, modulação da imunidade, potencial antioxidante e atividade antibacteriana estão entre os mais explorados. Os efeitos na promoção da saúde podem estar relacionados com a atividade biológica dos microrganismos presentes nos grãos e com os metabólitos gerados durante o processo fermentativo, como ácidos orgânicos e as bacteriocinas.
O leite fermentado por grãos de kefir é ácido e levemente alcoólico. É considerado excelente fonte de nutrientes, apresenta baixo teor de lactose, amino ácidos e proteínas de alto valor biológico (ex.: triptofano, amino ácido relacionado à “melhora do sono”), vitaminas e minerais. O leite fermentado é apreciado mundialmente e a produção artesanal para doação é comum, apesar do alto risco de se adquirir um kefir artesanal contaminado por coliformes fecais.
 Originalmente, os grãos de kefir eram usados para fermentar o leite de cabra ou vaca. Mas atualmente, são adicionados ao leite de soja, ao leite de arroz e ao leite de coco. Outros líquidos açucarados também são usados na produção do kefir, incluindo suco de frutas, água de coco, cerveja e cerveja de gengibre.
LEGISLAÇÃO:
A Instrução normativa nº 46 de 2007 estabelece que um leite fermentado ou cultivado seja obtido a partir da fermentação com um ou vários dos seguintes microorganismos: Lactobacillus acidophilus, Lactobacillus casei, Bifidobacterium sp., Streptococus salivarius subsp. thermophilus e/ou outras bactérias acido-lácticas que, por sua atividade, contribuem para a determinação das características do produto final. Os microrganismos empregados na fermentação devem ser viáveis, ativos e abundantes no produto final durante seu prazo de validade.
Segundo normas internacionais estabelecidas pelo Codex Alimentarius, leites fermentados devem ser produtos originados do leite, o qual possui ou não modificação composicional, fermentado por microorganismos adequados, resultando na diminuição do pH com ou sem coagulação (precipitação isso-elétrica). Estes microorganismos iniciais devem ser viáveis, ativos e abundantes no produto até a data de durabilidade mínima. Se o produto for tratado termicamente após a fermentação, o requerimento sobre microorganismos viáveis ​​não se aplica. Os microorganismos encontrados no kefir podem ser: Lactobacillus kefiri; Lactobacillus delbrueckii subsp. Bulgaricus; Kluyveromyces marxianus; espécies dos gêneros Leuconostoc, Lactococcus e Acetobacter; leveduras fermentadoras de lactose (Kluyveromyces marxianus) e leveduras não fermentadoras de lactose (Saccharomyces unisporus, Saccharomyces cerevisiae e Saccharomyces exiguus).
A portaria nº 32/1998 do ministério da saúde define um suplemento vitamínico e/ou mineral como alimentos com finalidade de complementar a dieta diária de uma pessoa saudável, em casos onde sua ingestão, a partir da alimentação, seja insuficiente ou quando a dieta requerer suplementação. Ela também estabelece que os produtos contenham um mínimo de 25% e no máximo até 100% da Ingestão Diária Recomendada (IDR) de vitaminas e ou minerais, na porção diária indicada pelo fabricante, não podendo substituir os alimentos, nem serem considerados como dieta exclusiva. O produto deve conter a orientação em negrito "Gestantes, nutrizes e crianças até 3 (três) anos, somente devem consumir este produto sob orientação de nutricionista ou médico”.
Quanto à rotulagem, a portaria nº 32/1998 estabelece que o produto não pode incluir “qualquer expressão que se refira ao uso do Suplemento para prevenir, aliviar, tratar uma enfermidade ou alteração do estado fisiológico”. Entretanto, “São permitidas somente informações sobre as funções cientificamente comprovadas das vitaminas e minerais, descrevendo o papel fisiológico desses nutrientes no desenvolvimento e ou em funções do organismo”.

Imagem 2. Informações constantes no rótulo do produto.

DISCUSSÃO E CONCLUSÃO:
A recomendação de uso de duas cápsulas por dia do produto, bem como a orientação a gestantes, nutrizes e crianças até três anos encontra-se em acordo com a portaria 32/1998.
Entretanto, os benefícios do produto KefirReal® descritos no site da Biológicus estão em desacordo com o permitido pela legislação específica para suplementos vitamínicos e minerais, evidenciando-se uma propaganda inadequada. As funções do magnésio cientificamente comprovadas podem constar no rótulo, porém, desde que acompanhadas da descrição do papel fisiológico, o que não é observado. O observado no rótulo é a mistura de propriedades funcionais associadas ao magnésio e das associadas ao alimento probiótico kefir, ficando vago e não explicitando o papel fisiológico adequadamente e separadamente.
 Para que o produto mantenha as alegações de todas as funcionalidades associadas, devem ser conduzidos estudos clínicos que comprovem sua segurança e eficácia. E, se tais benefícios forem de fato comprovados, o produto poderia vir a ser um medicamento probiótico contendo magnésio.

REFERÊNCIAS
https://www.biologicus.com.br/kefirreal
HICKEY, M. Current Legislation of Market Milks. Milk Processing and Quality Management, p. 101, 5, 2009.
WESCHENFELDER, S. et al. Physicolchemical and sensorial characteristic of traditional kefir and derivatives. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v. 63, n. 2, p. 473-480, 2011.
MAEDA, H. et al. Effects of an exopolysaccharide (kefiran) on lipids, blood pressure, blood glucose, and constipation. Biofactors, v. 22, n. 1‐4, p. 197-200, 2004.
ROSA, Damiana D. et al. Milk kefir: nutritional, microbiological and health benefits. Nutrition Research Reviews, p. 1-15, 2017.
http://iberoquimica.com.br/Arquivos/Insumo/arquivo-113709.pdf
http://loja.biologicus.com.br/kefir-real-suplemento-a-base-de-magnesio?search=kefir
Nº, INSTRUÇÃO NORMATIVA. 46, De 23 De Outubro De 2007. Regulamentos Técnicos.
Portaria n.32 SVS/MS, de 13 de janeiro de 1998. A Secretária de Vigilância Sanitária do MS adota a Ingestão Diária Recomendada (IDR) para vitaminas, minerais e proteínas. Diário Oficial da União.
http://portal.anvisa.gov.br/alimentos/alegacoes
http://portal.anvisa.gov.br/registros-e-autorizacoes/medicamentos/produtos/biologicos/probioticos

3 comentários:

  1. O kefir é muito utilizado na produção de alimentos lácteos, uma vez que suas bactérias fermentadoras de ácido láctico presentes nos seus "grãos" (que nada mais são do que colônias de bactérias agregadas) permitem a redução gradual do pH que resulta na coagulação das proteínas do leite em diferentes níveis, podendo ser usada para produzir alimentos como iogurtes, queijos e leite fermentado, com a vantagem de que a bebida láctea tem uma validade maior que o leite antes da fermentação, principalmente por causa do baixo pH e competição com as bactérias do kefir, o que evita a proliferação de bactérias patogênicas. Além disso, as bactérias fermentadoras lácticas permitem um reequilibrio da microbiota intestinal, dando uma propriedade probiótica ao kefir.
    Dito isso, me questionei se após o processo de liofilização, essencial para manter a preservação e estabilidade do produto, além de reduzir custos no processo de embalagem, a viabilidade das bactérias do kefir estaria diminuída. No entanto, achei um trabalho de conclusão de curso evidenciando a manutenção da viabilidade após o processo de liofilização e um crescimento até um número de 10 a oitava UFC/ml em 45 dias, apenas 10x menor que antes da liofilização.
    Deve ser questionado, entretanto, a utilização da base de magnésio, que pode aumentar o pH do trato gastrointestinal a nível diferente do nível ótimo de atividade das enzimas bacterianas e dificultar, eventualmente, sua função probiótica.

    Fonte: SILVA, ANDREZA TALLYNE DE AGUIAR. CULTIVO DE KEFIR EM SORO DE LEITE E AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE CELULAR POR LIOFILIZAÇÃO. Orientador: Christine Lamenha Luna Finkler. 2015. 48 p. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharel em Nutrição) - Universidade Federal de Pernambuco, Vitória de Santo Antão, 2015.

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  2. O Kefir é um leite fermentado produzido pela ação de bactérias do ácido láctico, leveduras e bactérias do ácido acético e como um probiótico, ele é usado para regular a microbiota intestinal e melhoras a imunidade do indivíduo que o consome. Nesse caso, apenas a adição de magnésio não faz dele um suplemento vitamínico e mineral.
    Além disso, no rótulo do produto mostra que a porção de 2 cápsulas (indicada como ingestão diárias) contém apenas 126mg de Magnésio e o indicado para adultos está entre 300mg e 400mg e não há adição de nenhuma vitamina e outro mineral. Portanto o produto não atinge as especificações da legislação para suplementos e por isso deve ser apenas considerado apenas probiótico a base de magnésio.

    Ana Carolina Bastos de Souza
    DRE: 116052715

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  3. O uso de probióticos tem sua importância devido a regularização do intestino, a partir da reposição da flora intestinal, tendo impacto direto na capacidade de absorção de nutrientes e minerais essenciais para uma vida saudável. A partir disso, vê-se o Kefir, probiótico que contém magnésio em sua composição (Bisglicinato de magnésio), visa a manutenção da função muscular, nervosa, cardíaca, do metabolismo energético e fortalecer o sistema imunológico. Entretanto, de acordo com o Relatório da Análise das Propostas de Inclusão de ingredientes na lista de substâncias – etapa prévia à Consulta Pública (publicado em fevereiro de fevereiro de 2018), o Bisglicinato de magnésio está presente na lista de ingredientes e substâncias não incluídas por ausência de especificação, podendo ser por três razões: o constituinte proposto possuía referência de segurança de uso, porém não havia uma especificação publicada em uma das referências utilizadas; a ausência de uma finalidade de uso clara, ou seja, a identificação falha dos nutrientes ou substâncias bioativas fornecidos; a ausência de comprovação de segurança. Sendo assim, seria necessária a realização de estudos mais aprofundados dessa substância (que é o diferencial deste probiótico no Mercado), visando um melhor esclarecimento e certezas essenciais para que se promova o produto, tendo certeza de suas atribuições à saúde.

    Aluno: Bruno Reis
    DRE:115169983

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