Apresentação

Espaço para a apresentação e análise de estudos e pesquisas de alunos da UFRJ, resultantes da adoção do Método de Educação Tutorial, com o objetivo de difundir informações e orientações sobre Química, Toxicologia e Tecnologia de Alimentos.

O Blog também é parte das atividades do LabConsS - Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde, criado e operado pelo Grupo PET-SESu/Farmácia & Saúde Pública da UFRJ.Nesse contexto, quando se fala em Química e Tecnologia de Alimentos, se privilegia um olhar "Farmacêutico", um olhar "Sanitário", um olhar socialmente orientado e oriundo do universo do "Consumerismo e Saúde", em vez de apenas um reducionista Olhar Tecnológico.

quinta-feira, 2 de julho de 2015


Sucralose: Uma "Linea" tênue entre os riscos e benefícios.



Edulcorantes são substâncias empregadas na formulação de alimentos com a finalidade de conferir sabor doce, em substituição a sacarose, onde geralmente apresentam conteúdo calórico reduzido ou quase insignificante. A marca Linea contem uma linha de produtos a base de sucralose, um derivado da cana-de-açúcar e que possui o sabor do açúcar podendo ser utilizado por qualquer grupo incluindo crianças, gestantes e portadores de diabetes. Está no mercado há alguns anos e no Brasil foi pioneiro nessa nova abordagem. Aprovada por rigorosos órgãos de controle nacional e internacional, a sucralose foi estudada por mais de 20 anos, provando que além de ter o sabor do açúcar comum, não oferece riscos à saúde garantindo a segurança dos produtos da linha que inclui além de adoçante, shakes, achocolatados, geleias dentre outros.

Até a década de 1980 os produtos diabéticos eram encarados como fármacos, visto que seu consumidor geralmente estava associado ao paciente diabético ou com severas restrições alimentares. Este panorama se modificou em 1988 com a reclassificação dos Edulcorantes o que provocou um aumento no uso por grande parte da população e uma grande mudança no perfil de consumo, que não necessariamente apresentava tais restrições alimentares e sim visavam um apelo muito mais estético e saudável com foco no emagrecimento.
Sendo assim, um novo aspecto entra em cheque: SERÁ QUE DEPOIS DE TANTO TEMPO A SUCRALOSE NUNCA APRESENTOU NENHUM RISCO À SAÚDE? OS PRODUTOS APRESENTADOS PELA LINEA SÃO REALMENTE SEGUROS?
Ao longo dos anos, alguns edulcorantes tiveram seus perfis toxicológicos demonstrados, sendo que alguns deles se mostraram comprometedores para a saúde dos consumidores desses produtos. Casos como do ciclamato, proibido nos Estados Unidos por seus possíveis efeitos cancerígenos e genotóxicos, do aspartame, cuja hidrólise da porção contendo o éster metílico leva a formação de metanol além da contraindicação para indivíduos fenilcetonúricos, e da sacarina, que apresentou a incidência de tumores em bexigas de ratos em alguns estudos, estimularam mais e mais a busca por evidências do comprometimento da saúde pelo uso de edulcorantes.
Além do aspecto toxicológico, a elaboração de novos edulcorantes sempre visou um adequado perfil de segurança e um aceitável perfil sensorial e tecnológico para o produto.
Estudo realizado por Torloni e colaboradores avaliou o uso de adoçantes na gravidez com uma análise dos produtos disponíveis no Brasil, incluindo o da marca Linea:



Tabela 1. Adaptado de TORLONI, Maria Regina et al. O uso de adoçantes na gravidez: uma análise dos produtos disponíveis no Brasil. Rev. Bras. Ginecol. Obstet. 2007, vol.29, n.5, pp. 267-275. ISSN 1806-9339.


Esse estudo concluiu que há evidências de que o consumo materno de altas doses de sucralose, durante o período de organogênese, não provoca alterações detectáveis nos fetos de ratos ou coelhos. O FDA concluiu que a sucralose não apresenta riscos carcinogênicos, neurológicos ou reprodutivos para os seres humanos. Não existem dados disponíveis para recomendar seu uso durante a lactação.
Muitos estudos conduzidos até hoje apontaram que a sucralose possui um baixo risco à saúde associado ao seu consumo, porém alguns estudos pontuais mostraram fatores que poderiam ir de encontro com o rótulo de “sem riscos” que a sucralose possui.
Um exemplo disso está na associação à mutagenicidade observada em ensaios de linfoma em ratos. Outro exemplo pode ser descrito com um estudo que indica que a sucralose promoveu o aumento no acúmulo de gordura em células-tronco mesenquimais humanas.   Um determinado ensaio de indução a diabetes no consumo de sucralose por ratos mostrou que o uso em doses elevadas da sucralose pode levar a diabetogênese, enquanto que respeitando-se a ingestão diária recomendável sua utilização era de fato segura. Outro estudo verificou que o uso de sucralose em ratos alterou a microflora bacteriana do intestino, alterando o pH do bolo fecal e aumentando a expressão de enzimas do citocromo P-450 (enzimas estas de extrema importância quando se deseja ponderar a dose ideal de um fármaco a ser administrado devido a estas configurarem papel importante no metabolismo hepático destes). Além desses ensaios com fatores comprometedores associados ao consumo de sucralose, viu-se que tal edulcorante melhora a tolerância da suplementação oral de citrato de potássio na prevenção de cálculo renal, configurando um bom efeito agregado a sua utilização.
Após a análise de diversos estudos e consulta de diversas referências pode-se verificar que a maioria dos estudos realizados concluiu que se respeitando a dose diária recomendável de sucralose não se tem indicação de comprometimento da saúde apresentando-se segura. Por se tratar de um edulcorante não tão antigo, sempre se encontra nos estudos a importância na continuidade de pesquisa que possa relacionar os efeitos tanto benéficos quanto negativos referentes à utilização da sucralose. Até então, grande parte dos estudos que apontam os riscos desse edulcorante apresentaram estudos em ratos e poucas vezes em humanos, o que nos faz considerar um ponto de alerta para nos atentarmos futuramente a possíveis correlações de efeitos ao uso desses produtos. Os produtos da marca em questão, apesar de deficiência de estudos mais robustos, em geral, apresentam segurança para o consumo.

Juliana Ribeiro e Gabriel Baptista

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Resolução RDC n. 18 de 24/03/2008 – Regulamento Técnico que autoriza o uso de aditivos edulcorantes em alimentos, com seus respectivos limites máximos.

ANVISA. Ministério da Saúde. Considerações sobre o Uso do Edulcorante Aspartame em Alimentos. Informe Técnico nº 17, de 19 de janeiro de 2006. Disponível em: Acesso em: 20/06/2015.

SEN, Sabyasachi; ROUPHAEL, Carol; HOUSTON, Sara. Abstract P029: Sucralose Promotes Increase in Fat Accumulation in Human Mesenchymal Stem Cells. Circulation, v. 131, n. Suppl 1, p. AP029-AP029, 2015.

ABOU-DONIA, Mohamed B. et al. Splenda alters gut microflora and increases intestinal p-glycoprotein and cytochrome p-450 in male rats.Journal of Toxicology and Environmental Health, Part A, v. 71, n. 21, p. 1415-1429, 2008.

SHASTRY, C. S.; YATHEESH, C. K.; ASWATHANARAYANA, B. J. Comparative evaluation of diabetogenic and mutagenic potential of artificial sweeteners-aspartame, acesulfame-K, and sucralose. Nitte University Journal of Health Science, v. 2, n. 3, p. 80-1, 2012.

MECHLIN, Clay et al. Splenda® improves tolerance of oral potassium citrate supplementation for prevention of stone formation: results of a randomized double-blind trial. Journal of Endourology, v. 25, n. 9, p. 1541-1545, 2011.



  

Um comentário:

  1. O tema abordado é bastante interessante e relevante pois hoje em dia homens e mulheres se preocupam com a estética procurando, assim, alternativas alimentares que auxiliem na perda de peso. Porém esse estudo mostra a possibilidade de existir ou não riscos à saúde com ingestão da sucralose.
    O Conselho Federal de Nutricionistas fez uma recomendação n°3/2016 sobre Sucralose, que informa o seguinte : “ Apesar de informações circulantes de malefícios sobre a sucralose, não foram encontrados estudos científicos (desenvolvidos com humanos e em quantidade representativa) que suportem as afirmações de que o consumo do edulcorante aumentaria a secreção de insulina, causaria alterações na tireoide e câncer. A sucralose foi aprovado pela Food and Drug Administration (FDA) como um edulcorante de mesa em 1998, seguindo-se a aprovação como um adoçante de uso geral em 1999. Antes de aprovar o adoçante, o FDA revisou mais de 100 estudos de segurança realizados no edulcorante, incluindo estudos para avaliar o risco de câncer. Os resultados destes estudos não mostraram nenhuma evidência de que o adoçante cause câncer ou represente qualquer outra ameaça à saúde humana “
    Em virtude desses resultados a Unidade Técnica de Alimentação, Nutrição e Câncer do INCA informou que não há evidências que relacionem o consumo de sucralose com o desenvolvimento de câncer em seres humanos. Todavia, há motivos para o reconhecimento da hipótese de um possível desenvolvimento do câncer. Logo, o INCA adotou a recomendação de evitar o consumo de qualquer tipo de adoçante artificial, inclusive a sucralose, para a população sem indicação clínica específica para o uso da substância.
    Podemos concluir que a sucralose é útil, porém é sempre importante uma conversa com um nutricionista e profissional de saúde para tirar suas dúvidas a respeito da inclusão em suas dietas de produtos, que contenham Sucralose.

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