Apresentação

Espaço para a apresentação e análise de estudos e pesquisas de alunos da UFRJ, resultantes da adoção do Método de Educação Tutorial, com o objetivo de difundir informações e orientações sobre Química, Toxicologia e Tecnologia de Alimentos.

O Blog também é parte das atividades do LabConsS - Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde, criado e operado pelo Grupo PET-SESu/Farmácia & Saúde Pública da UFRJ.Nesse contexto, quando se fala em Química e Tecnologia de Alimentos, se privilegia um olhar "Farmacêutico", um olhar "Sanitário", um olhar socialmente orientado e oriundo do universo do "Consumerismo e Saúde", em vez de apenas um reducionista Olhar Tecnológico.

domingo, 19 de julho de 2015

Niquitin: aliado contra o cigarro?


Niquitin adesivos: Dobra suas chances de parar de fumar, afirma a empresa GSK. 
Considerando o mercado de medicamentos isentos de prescrição, o Niquitin é o mais recomendado pelos médicos para parar de fumar. Será ele o medicamento mágico contra o tabagismo? 

              A nicotina é uma substância que constitui o princípio ativo do tabaco. Quando o fumante inala a fumaça do cigarro, uma grande quantidade de componentes como a nicotina chega aos pulmões caindo na circulação arterial, possibilitando a chegada ao sistema nervoso central em poucos segundos. No cérebro, a nicotina tem capacidade de se ligar aos receptores colinérgicos nicotínicos, ativando o sistema de recompensa que favorece a liberação de neurotransmissores como a adrenalina, dopamina e serotonina. Esses neurotransmissores induzem a sensação de prazer e relaxamento, a redução do estresse e o aumento do estado de vigília. Quando um indivíduo fuma por tempo prolongado, ocorre o aumento da expressão de receptores nicotínicos no cérebro, devido à presença constante de grande aporte de nicotina. Quando o indivíduo tenta parar de fumar há falta de nicotina para se ligar aos receptores, levando à síndrome de abstinência o que dificulta a suspensão de tal hábito.
 
                                                                Figura 1: Estrutura molecular da Nicotina 


Essa é uma razão pela qual a Terapia de Reposição da Nicotina (TRN) auxilia no tratamento dos fumantes para abandonar o vício. Nesse tipo de tratamento há a substituição da nicotina dos cigarros pela Nicotina Terapêutica.
O produto Niquitin desenvolvido pela empresa GSK é indicado para essa terapia auxiliando no tratamento do tabagismo. A principal substância presente no produto é a nicotina, a mesma substância presente no cigarro responsável por induzir a dependência. Entretanto no cigarro estão presentes outras 4720 substâncias potencialmente tóxicas ao organismo.
Esse tratamento consiste na administração de doses cada vez menores de nicotina, a fim de propiciar a retirada progressiva da substância, diminuindo a dependência ao fumo e reduzindo os sintomas de abstinência como cefaléias, dificuldade de concentração e irritação; não causando ao indivíduo os efeitos prejudiciais causados pelos demais componentes do cigarro.
No mercado existem duas formas farmacêuticas distintas para o Niquitin: a forma de pastilha ou adesivo. As pastilhas apresentam as concentrações de 2 e 4 mg de nicotina, e até a sexta  semana de tratamento devem ser tomadas a cada hora ou com um intervalo de 2 horas. Enquanto o Niquitin adeviso apresenta a capacidade de liberar continuamente nicotina durante 24 horas de forma controlada. Desse modo o adesivo mostra-se mais vantajoso quanto à adesão ao tratamento, pois aumenta o intervalo de administração quando comparado às pastilhas.

Segundo a consulta pública n. 50 de 28/05/07 publicada pela Anvisa, adesivos transdérmicos são sistemas destinados à aplicação na pele, produzindo um efeito sistêmico pela difusão do(s) princípio(s) ativo(s) através da mesma numa velocidade constante por um período de tempo prolongado.
               Em conformidade com a legislação, o Niquitin adeviso transdérmico possui a Tecnologia Smart Control ™, sendo um adesivo disposto em quatro camadas. A camada mais profunda permite a liberação rápida da nicotina terapêutica para o controle da fissura, a segunda camada é uma membrana de liberação controlada, a terceira funciona como um reservatório de nicotina terapêutica que permite sua liberação constante durante todo o dia e a última camada é a proterora.

                                            Figura 2: Esquema estrutural do adesivo transdérmico Niquitin


Estão disponíveis no mercado três concentrações do adesivo Niquitin: 7, 14 e 21 mg. A escolha da concentração a ser utilizada e do tempo de tratamento depende do nível de dependência do indíviduo e é estimado a partir do número de cigarros fumados por dia.
  
Alguns cuidados que devem ser tomados pelo indivíduo quanto ao uso do Niquitin:
Após o início do tratamento com Niquitin, não é recomendado fumar. Caso volte a fumar, suspenda o tratamento e volte no futuro em uma nova tentativa.
Se o indivíduo estiver hospitalizado devido à ocorrência de um infarto ou AVC não é recomendado o uso de Niquitin, ou seja, deve parar de fumar sem ajuda de TRN.
Se possuir diabetes deve haver maior vigilância quanto ao nível de glicose no sangue, ao iniciar o tratamento com Niquitin, pois a necessidade de insulina e de outros fármacos pode mudar.

Reações Adversas
As reações adversas podem ser classificadas quanto à intensidade de ocorrência, em:
 Reações mais frequentes: Náuseas, vômitos, dor de cabeça, tontura, reações no local de aplicação, distúrbios de sono incluindo sonhos incomuns e insônia.
Reações comuns : Tremores, palpitações, falta de ar, faringite, tosse, nervosismo, desconforto digestivo, dor abdominal alta, diarréia, boca seca, prisão de ventre, aumento da transpiração, dores nas articulações e musculares, dor torácica, dor nos membros, astenia e fadiga.
Reações incomuns: Taquicardia, mal estar, sintomas semelhantes aos da gripe e hipersensibilidade (alergia).
Reações muito raras: Reações anafiláticas, dermatite alérgica, dermatite de contato e fotossensibilidade.


Superdosagem
Nessa situação, os sinais e sintomas são semelhantes à superdosagem de qualquer medicamento à base de nicotina ou em intoxicação aguda por nicotina. São eles: Palidez, suor frio, salivação, vômitos, dor abdominal, diarréia, dor de cabeça, tontura, distúrbios de audição e visão, tremores, confusão mental, fraqueza, prostração, pressão baixa, insuficiência respiratória e convulsões. Em qualquer um desses sintomas, o uso do adesivo deve ser interrompido e deve procurar um médico. O local da aplicação na pele pode ser lavado com água corrente, mas não com sabão, pois este pode aumentar a absorção da nicotina.

O Tabagismo é um grave problema de saúde pública
É considerado como causa de quase 50 diferentes tipos de doenças que incapacitam o ser humano, podendo levar à sua morte. Responsável por 45% de infarto do miocárdio, 85% das mortes por doença pulmonar obstrutiva crônica (enfisema), 25% das mortes por doença cérebro-vascular (derrames) e 30% das mortes por câncer. E 90% dos casos de câncer de pulmão ocorrem em fumantes.
Pode dar início ou agravar doenças como hipertensão e diabetes. Eleva o risco de o indivíduo desenvolver e até chegar ao óbito com tuberculose.
Mata cinco milhões de pessoas por ano no mundo. No Brasil são 200 mil mortes anuais. É considerada como doença crônica, ou seja, seu tratamento é de interesse público. De acordo com a Portaria 2.982 de 26/11/2009, o Ministério da Saúde é responsável por disponibilizar adesivos transdérmicos de nicotina. Este produto faz parte do programa de saúde estratégica oferecida à comunidade: o Programa Nacional de Controle do Tabagismo no Sistema Único de Saúde (SUS) que oferece tratamentos gratuitos em mais de três mil unidades públicas de saúde.
A nicotina do tabaco causa dependência química similar à dependência de drogas como heroína ou cocaína. O tabagismo é considerado uma doença pediátrica, pois a idade média que o indivíduo inicia essa prática é 15 anos. Por isso, tem que haver um cuidado redobrado com os adolescentes e as estratégias que esses recebem como a propaganda e promoção com imagens positivas ao produto e ao ato de fumar; baixo preço dos produtos; facilitação do acesso aos produtos devido ao grande número de pontos de venda, a colocação dos produtos em prateleiras de supermercados e lojas de conveniência, a venda de cigarros em máquinas automáticas de venda, que facilitam o acesso e dificultam o controle de venda aos menores de idade.
A globalização dessas estratégias faz com que o consumo de cigarro continue a aumentar no mundo inteiro, principalmente em países pobres.
Com tudo isso, percebe-se a necessidade de medidas para controle do tabagismo como: Proteção da população contra a exposição à fumaça em ambientes fechados; proibir a promoção, publicidade e patrocínio do cigarro; desenvolver programas de educação e conscientização sobre os malefícios do tabagismo e de tratamento da dependência da nicotina; impedir o acesso dos produtos aos jovens.  

Discussão
Ainda é muito contraditória a ideia de que somente medicamentos, assim como o Niquitin são suficientes para a cura do tabagismo. Sabe-se que esta patologia causa dependência química devido à presença da nicotina, mas há discussões que dizem que o cigarro também causa dependência psicológica. Em uma matéria publicada no Jornal O Dia em 12/01/2014, Stella Martins, da Comissão de Tabagismo da Associação Médica Brasileira, afirma que a dependência e o tratamento envolvem aspectos comportamentais e psicológicos também. Ela relata que, na maioria das vezes, o cigarro é visto como “refúgio” para esquecer as dificuldades e que o ideal é que paciente aprenda a lidar com as situações difíceis sem o fumo.
Então quando um indivíduo decide largar o cigarro, este tem que ter a noção de que além da dependência química, a psicológica também tem que ser tratada. Faz-se necessário um acompanhamento psicoterápico em grupo ou individual para que o fumante perceba o verdadeiro lugar do cigarro e que ele pode viver sem fumar. E é nesse contexto que a terapia medicamentosa auxilia ao tratamento. Segundo associação Médica Brasileira e Agência Nacional de Saúde Suplementar, no documento de diretrizes clínicas na saúde suplementar, para todo fumante acima de 18 anos, que consome mais de 10 cigarros/dia, interessado em parar de fumar o uso de fármacos aumenta de 2 a 3 vezes a chance de sucesso de acordo com a medicação prescrita, conforme visto na tabela a seguir:


Desse modo, o adesivo transdérmico Niquitin, assim como outras terapias medicamentosas podem auxiliar no tratamento do tabagismo desde que o uso seja concomitante com terapias de suporte psicológico e o uso seja realizado conforme prescrição médica e orientação farmacêutica.

Autoras: Marina da Silva Boni (DRE: 111026832) e Michele de Vasconcelos Macena (111220842)

Referências Bibliográficas

Brasil. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer. Coordenação de Prevenção e Vigilância – CONPREV.Tabagismo: Um Grave Problema de Saúde Pública. Rio de Janeiro: INCA, 2007.
MEIRELES, R.H.S. A ratificação da Convenção-Quadro para o controle do tabaco pelo Brasil: uma questão de saúde pública. J. Bras. Pneumol., v.32, n.1, p.2-3, 2006.
CHARRAN, Ivone Maria. Monografia “O fumante e o cigarro : significado simbólico desta relação”conclusão de curso de Especialização em Abordagem Junguiana. Cogeae – PUCSP - 2007.
INCA Instituto Nacional do Câncer e Ministério da Saúde – Manual Ajudando seu paciente a deixar de fumar. Rio de Janeiro, 1997.
PLANETA, CS & CRUZ, FC. Bases neurofisiológicas da dependência do tabaco. Ver. Psiq. Clin. 32 (5); 251-258, 2005.
Brasil. Ministério da Saúde. Portaria N. 2.982 de 26 de novembro de 2009. Rio de Janeiro, 2009.
ASSOCIAÇÃO MÉDICA BRASILEIRA E AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR. Diretrizes clínicas na saúde suplementar: Tabagismo. São Paulo, 2011.
ANVISA. Consulta Pública n. 50 de 28 de maio de 2007. D.O.U de 30/05/2007.
GLAXOSMITHKLINE BRASIL. Niquitin adesivo(nicotina). Disponível em: <http://www.gskpacientes.com.br/medicamento/nome/niquitin-adesivo-nicotina/159> Acesso em: 19/07/2015 às 15h39min.

 

 

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