Apresentação

Espaço para a apresentação e análise de estudos e pesquisas de alunos da UFRJ, resultantes da adoção do Método de Educação Tutorial, com o objetivo de difundir informações e orientações sobre Química, Toxicologia e Tecnologia de Alimentos.

O Blog também é parte das atividades do LabConsS - Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde, criado e operado pelo Grupo PET-SESu/Farmácia & Saúde Pública da UFRJ.Nesse contexto, quando se fala em Química e Tecnologia de Alimentos, se privilegia um olhar "Farmacêutico", um olhar "Sanitário", um olhar socialmente orientado e oriundo do universo do "Consumerismo e Saúde", em vez de apenas um reducionista Olhar Tecnológico.

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Todas as águas de coco são iguais?

Por Nathália Soares e Karoline Torquato

A água de coco é uma bebida amplamente consumida no Brasil devido ao seu sabor agradável e também para reidratação e reposição de fluidos. Ela é obtida da espécie cocos nucifera L popularmente conhecida como coco-anão que é originária da Malásia, mas é encontrada em todo o litoral brasileiro. Embora o fluido seja rico em sais e macronutrientes alguns estudos demonstraram que a concentração destes é influenciada pelo estágio de maturação do fruto. Será que a água de coco industrializada e a natural tem a mesma composição?
A água de coco é o líquido do endosperma encontrado dentro da cavidade do fruto, que começa a se formar em torno de 2 meses após a abertura natural da inflorescência e atinge o volume máximo, entre 300-500mL, no sexto mês quando é utilizado comercialmente. O macronutriente majoritário no líquido são os carboidratos que representa 4% da sua composição básica e apresenta-se principalmente na forma de açucares redutores e atinge sua concentração máxima (6g/100mL) entre o sexto e o sétimo mês de desenvolvimento. Porém ao fim da maturação o teor de açucares totais é consideravelmente reduzida alcançando o máximo de 2g/100mL. Os lipídios por sua vez representam 0,1% da composição da água de coco e tem concentração praticamente insignificante durante o 6° e o 7° mês, aumentando progressivamente durante o desenvolvimento do fruto alcançando seu teor máximo ao fim da maturação, tornando a água opaca. Com relação aos aminoácidos livres, no coco verde sua composição tem como componentes majoritários glutamina, arginina, asparagina, alanina e ácido aspártico. O coco maduro por sua vez possui principalmente ácido glutâmico e ácido γ-aminobutírico.
Os principais eletrólitos presentes na água de coco são potássio, sódio, cálcio, magnésio, cloreto e fosfato, e a concentração está diretamente relacionada ao estágio de maturação do fruto e o local de plantio da espécie vegetal. O potássio representa 2/3 do total de minerais presentes, porém sua concentração tende a diminuir ao longo do amadurecimento na variedade anão, sendo o teor aproximadamente 156mg/100mL no sétimo mês. Embora o sódio seja um dos componentes do fluido sua concentração é baixa sendo 2,5mg/100mL no quinto mês, tendendo a aumentar até o fim da maturação. Com relação ao cálcio, sua quantidade é sempre maior que a de sódio independente do estágio de desenvolvimento, variando entre 23,4 a 48,0 mg/100mL no 6º mês. O cloreto e fosfato embora seja um dos minerais presentes na composição, são elementos traço e sofrem leve variação com tempo de maturação. 

Aplicações terapêuticas:
Devido a grande concentração de minerais e por ter características sensoriais bastante aceitáveis, a água de coco é largamente utilizada na reposição de eletrólitos após exercícios físicos intensos como isotônico natural. As bebidas sintéticas presentes no mercado com essa mesma finalidade possuem alguns aditivos como: corantes (amarelo crepúsculo), aromatizantes, acidulantes (ácido cítrico), conservantes (citrato de sódio) e antioxidantes. A utilização desses compostos embora seja importante para manter a qualidade do produto pode causar em pessoas mais susceptíveis quadros de hipersensibilidade, angioedema e distúrbios gástricos principalmente devido ao corante. Desta forma, a água de coco que é um isotônico natural mostra-se mais vantajosa. Porém a ingestão dessas bebidas deve ser feita com moderação, pois sua utilização sem indicação poderia causar um desbalanço eletrolítico acarretando em alterações na pressão arterial.
Outra aplicação ainda pouco conhecida deste fluido é para reidratação intravenosa de curto prazo em pacientes críticos, principalmente utilizado em locais onde o acesso a compostos com essa finalidade é escasso [2]. Além disso, a água de coco é empregada na área biomédica por ter boa atividade crioprotetora em sêmen de humanos [4], como meio de crescimento para bacterioídes, bactérias fitopatôgenicas, bacilos lácticos e quando alcalinizada para a multiplicação de bactérias intestinais. É empregado ainda como diluente na produção da vacina de Newcastle [3]. 
 
Legislação e discussão:
 
Embora seja bastante comum a ingestão da água de coco direto do fruto, para que haja a armazenagem e comercialização da mesma é necessário o emprego de métodos de conservação logo após a extração. Esses procedimentos são realizados com o objetivo de inibir a atividade enzimática e a garantir a qualidade microbiológica após a abertura do fruto, preservando, porém as características sensoriais originais.
Segundo a Instrução Normativa Nº 27, DE 22 DE JULHO DE 2009, dependendo do processamento ao qual é submetida a água de coco pode ser classificada como: resfriada, congelada, pasteurizada e congelada, esterilizada e envasada assepticamente, ultrafiltrada e aditivada [1]. Estabelece ainda parâmetros máximos e mínimos para pH, sólidos solúveis, potássio e sódio, tabela 1. Esses parâmetros são fundamentais e essenciais a fim de se garantir uma padronização desses componentes para que haja hidratação e reposição de sais minerais sem acarretar em um desequilíbrio eletrolítico e afetar a performance e a saúde do indivíduo uma vez que sódio utilizado como conservante, para inibir a ação enzimática e garantir estabilidade microbiológica, e aromatizante de produtos industrializados, quando em excesso, se associa à doenças como hipertensão, insuficiência cardíaca ou renal. Além disso, o excesso de potássio pode afetar o sistema de condução elétrica do coração levando ao estabelecimento de um ritmo cardíaco anormal.


Sendo assim, a água de coco é uma boa escolha como uma bebida hidratante, refrescante e isotônica permitindo a absorção de íons mais rápida do que em outras situações, restabelecendo prontamente as perdas destes nutrientes e mantendo todos os órgãos funcionando de maneira adequada.


A água de coco natural em detrimento da industrializada atua como primeira opção uma vez que não contêm conservantes, para aumentar o tempo de prateleira do produto, ou açúcar nem outras substâncias artificiais tendo como vantagem de não provocar alergias e poder ser ingerida por qualquer um – com raríssimas exceções: hipertensos e diabéticos, por exemplo. A água de coco industrializada deveria preservar as propriedades nutricionais do líquido natural, apresentando alterações não muito significativas em relação seus constituintes, conforme mostra a figura 1. Assim, embora seja muito utilizada devido a praticidade para consumo em qualquer local é preciso ter cautela e observar se o produtor segue as especificações com respeito a composição.

Conclusão:

            Diante das informações apresentadas não é correto concluir que qualquer água de coco consumida apresentará a mesma composição nutricional. Aquela que melhor atende as necessidades de glicose e minerais é proveniente de cocos verdes entre o quinto e o sexto mês de maturação. Neste sentido, a água de coco industrializada, quando em conformidade com a legislação vigente, fornece os subsídios necessários para a reposição de líquidos e eletrólitos. Entretanto, o teor de cálcio que é o segundo mineral presente em maior quantidade na água de coco e participa de importantes atividades fisiológicas, não possui teor padronizado e por isso o consumidor não é informado sobre a verdadeira concentração ingerida deste mineral. Fator esse que deveria ser revisto em oportunidades futuras. 


Referências:

  1. BRASIL. Ministério da Agricultura Pecuária e do Abastecimento. Instrução Normativa n. 27, 22 de julho de 2009.
  2. Campbell-Falck, D.; Thomas, T.; Falck, T.M.; Tutuo, N.; Clem, K. The intravenous use of coconut water. Am. J. Emerg. Med. 2000, 18, 108–111.
  3. DARMINTO; RONOHARDIJO, P.; SAURI, S.;SURYANA, N. Utilization of coconut juice (coconut water) for diluent of Newcastle disease vaccines. Penyakit-hewan, v.48:6-18, 1994.
  4. NUNES, J. F; COMBARNOUS, Y. Utilização da água de côco e suas frações ativas como diluidor do sêmen dos mamíferos domésticos. IN. I SIMPÓSIO DE BIOTECNOLOGIA DA REPRODUÇÃO DE ANIMAIS DOMÉSTICOS. Fortaleza, p. 53-63, 1994.

2 comentários:

  1. Comparando a quantidade de açúcar encontrado no coco natural em torno dos 6-7 meses (6g/100ml) com a do rótulo mostrado podemos perceber que, teoricamente, a empresa colheu os frutos e extraiu o fluido na época correta e não alterou nada nele, alem dos conservantes adicionados.
    Porém, me parece um pouco difícil de acreditar nisso. Se realizarmos uma análise sensorial das caixas de agua de coco industrializadas, com certeza encontraremos o mesmo sabor entre elas, inclusive de lotes distintos. Enquanto isso, se fizermos teste igual com cocos naturais, frutos da mesma árvore, muito provavelmente perceberemos diferenças entre eles. Acredito que, na verdade, os produtores dessas caixinhas manipulem o fluido da forma que bem entendem, para garantir sempre a qualidade do produto vendido no mercado.
    Pode ser que eu esteja sendo apenas cético em relação as indústrias, coitadas, mas sempre me pareceu muito estranho o fato do gosto dessas caixinhas de água de coco ser maravilhoso a qualquer época do ano, enquanto o sabor do coco que costumo beber na praia consiga variar tanto de um para o outro...

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  2. A água de coco in natura em relação a industrializada tem não somente uma vantagem com relação ao fato de não conter conservantes, como apontado no trabalho, como também com relação a características sensoriais. Um artigo publicado com o objetivo de avaliar sensorialmente 4 amostras de água de coco, sendo uma in natura, retirada de cocos sadios, e 3 processadas industrialmente, apontou que a amostra in natura obteve a maior aceitação sensorial satisfatória.
    Sendo assim, poderíamos dizer que é sempre melhor consumir o produto in natura, mas sem dúvida isso varia de consumidor para consumidor. Analisando duas amostras industrializadas de água de coco, pude verificar que eles apontavam a adição de apenas um conservante, o INS 223, que é o metabissulfito de sódio. Temos que levar em consideração também a localidade do consumidor, onde aqueles que moram próximos a áreas litorâneas apresentam uma facilidade maior em adquirir a água de coco in natura. Além disso, o preço é outro quesito a ser considerado no produto in natura. Por exemplo, a água de coco no Nordeste muitas vezes consegue-se comprar por cerca de 2 reais, enquanto no Rio de Janeiro esse preço nas praias sobe para 5 reais... Então muitos quesitos são levados em conta para o consumidor preferir o produto in natura ou o industrializado.
    Mas sem dúvida, o produto in natura seria melhor na minha opinião, devido a ausência de conservantes e por apresentar características sensoriais mais aceitáveis, sendo um excelente repositor de eletrólitos e reidratante
    Link do artigo verificado: http://joaootavio.com.br/bioterra/workspace/uploads/artigos/cocoinnatura-5156551c61d4e.pdf

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