Apresentação

Espaço para a apresentação e análise de estudos e pesquisas de alunos da UFRJ, resultantes da adoção do Método de Educação Tutorial, com o objetivo de difundir informações e orientações sobre Química, Toxicologia e Tecnologia de Alimentos.

O Blog também é parte das atividades do LabConsS - Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde, criado e operado pelo Grupo PET-SESu/Farmácia & Saúde Pública da UFRJ.Nesse contexto, quando se fala em Química e Tecnologia de Alimentos, se privilegia um olhar "Farmacêutico", um olhar "Sanitário", um olhar socialmente orientado e oriundo do universo do "Consumerismo e Saúde", em vez de apenas um reducionista Olhar Tecnológico.

sábado, 21 de abril de 2012

Farinha de feijão branco: emagrece e auxilia no controle de diabetes.

         As propriedades do feijão branco colocaram este alimento na lista dos mais procurados por quem quer perder peso ou enfrenta uma dieta restritiva. Mas porque esse alimento ganhou fama tão repentina? 

         Este produto promete favorecer o emagrecimento e a redução dos níveis de glicemia plasmática. Os benefícios da farinha de feijão branco para a dieta estão relacionados, principalmente a quantidade de fibras que carrega e à proteína presente nesse feijão, a faseolamina. Esta proteína atua de forma a inibir a enzima α-amilase, responsável pela digestão de amido. Com a inibição da enzima α-amilase, as moléculas de amido não podem ser digeridas e, dessa forma, são eliminadas diretamente, através das fezes. Esse mecanismo apresenta uma alternativa segura para as dietas de emagrecimento e para diabéticos que precisam diminuir a absorção de carboidratos. Entretanto, as propriedades apresentadas serão mantidas apenas quando o feijão branco for ingerido na forma de farinha, pois, ao ser cozido, a proteína responsável pela inibição da absorção de carboidratos é desnaturada. Apesar de ser um alimento nutritivo, será que a farinha de feijão branco pode ser consumida à vontade? Quais efeitos adversos o seu uso indiscriminado poderia acarretar ao organismo?



         Em estudo realizado por BIRKETVEDT et al.(2002) com 62 indivíduos com sobrepeso e obesos recebendo dieta suplementada com extratos de feijão (feijão branco Kidney misturado com feijão locust) foi observada uma diminuição de 6% do colesterol, após três meses de ensaio. Neste estudo foi demonstrado que a suplementação com extrato de feijão, modestamente, reduziu os níveis de colesterol sérico a curto e longo prazo (três de doze meses, respectivamente).
         Apesar de todos os efeitos benéficos que as fibras e as proteínas, em especial a faseolamina, podem promover, como auxílio no emagrecimento, no controle do diabetes e aumento da sensação de saciedade, a farinha de feijão branco também possui um componente que produz efeitos indesejáveis quando este produto é utilizado de forma indiscriminada. Esse componente é o ácido fítico. Muitos estudos têm demonstrado que o ácido fítico reduz a absorção no intestino de minerais essenciais, como ferro não-heme, zinco e  cálcio, tanto em animais, quanto em humanos, reduzindo a biodisponibilidade destes minerais.  Após ensaios em ratos, foi determinado que cultivares de cereais e leguminosas  com altos níveis de ácido fítico, como o feijão branco,  apresentaram diminuição relativa da utilização líquida de zinco, enquanto que cultivares com baixas concentrações de ácido fítico apresentaram maiores valores deste mineral. Além disso, o feijão branco possui toxinas que podem causar danos ao intestino, levando à ocorrência de episódios diarreicos

Análise frente a legislação pertinente:


              A categoria a ser enquadrado o produto depende de suas características de identidade, qualidade e finalidade de uso. É de responsabilidade da empresa o correto enquadramento do produto, de acordo com a legislação vigente.

           A farinha de feijão branco cru é considerada como "novo ingrediente", de acordo com a Resolução ANVISA n. 16, de 30 de abril de 1999. Portanto ela deve ser avaliada quanto à segurança de uso, em atendimento à Resolução da ANVISA n. 17, de 30 de abril de 1999, que estabelece as Diretrizes Básicas para a Avaliação de Risco e Segurança do Alimentos, conforme dispõem os itens 6.3 das Resoluções ANVISA RDC n. 263/2005 e RDC n. 273/2005. Novos alimentos e ou novos ingredientes são os alimentos ou substâncias sem histórico de consumo no País, ou alimentos com substâncias já consumidas, e que, entretanto, venham a ser adicionadas ou utilizadas em níveis muito superiores aos atualmente observados nos alimentos utilizados na dieta regular.  
           Vale ressaltar que Produtos com finalidade medicamentosa ou terapêutica estão excluídos da área de alimentos, conforme dispõe o art. 56 do Decreto Lei n. 986, de 21 de outubro de 1969. Caso a empresa deseje utilizar alegação de propriedade funcional e ou de saúde em seu rótulo e/ou material publicitário, o produto deve ser enquadrado na categoria de alimentos com alegações de propriedades funcionais e ou de saúde, regulamentada pelas Resoluções ANVISA n. 18 e n.19, de 30 de abril de 1999.

  • Alegação de propriedade funcional: é aquela relativa ao papel metabólico ou fisiológico que o nutriente ou não nutriente tem no crescimento, desenvolvimento, manutenção e outras funções normais do organismo humano.

  • Alegação de propridade de saúde: é aquela que afirma, sugere ou implica a existência de relação entre o alimento ou ingrediente com doença ou condição relacionada à saúde.

           Alegações de propriedades medicamentosas, terapêuticas e relativas a emagrecimento não podem constar do rótulo ou material publicitário do produto. Para utilizar alegações de propriedades funcionais e/ou de saúde, a empresa deve protocolar pedido de registro do produto na categoria específica e atender às disposições da legislação pertinente. 

Discussão e Conclusão

            Alguns estudos têm comprovado as propriedades de auxílio no emagrecimento da farinha de feijão branco. Contudo, há, também, estudos que demonstram o impacto do ácido fítico, presente no feijão branco, sobre a saúde. O recomendado não só para o uso da farinha de feijão branco, mas também para o consumo de todos os produtos com alto teor de fibras, como misturas de cereais, farinhas e farelos, é que eles devam estar inseridos no contexto de uma alimentação diversificada e saudável. É importante ressaltar que o consumo desses produtos em detrimento a outros alimentos ou para substituir refeições pode trazer prejuízos à saúde, pois eles não fornecem todos os nutrientes necessários a uma alimentação adequada.


Bibliografia

  •  BIRKETVEDT, G.S.; TRAVIS, A.; LANGBAKK, B.; FLORHOLMEN, J.R.; Dietary Supplementation with Bean Extracts Improves Lipid Profile in Overweight and Obeses Subjects. Nutr., v.18, p 729-733. 2002.
  • Reportagem do Globo Repórter, de 03/07/2009.
  • Cárdena, L.L.A.R. Biodisponibilidade de Zinco e Ferro, Valor Nutritivo e Funcional de Diferentes Cultivares de Feijão Comum Submetidos a Tratamento Doméstico. Tese para obtenção do título de Doctor Scientiae. Brasil, Minas Gerais, 2006.
  • ANVISA, Informe Técnico n. 46, de 20 de maio de 2011.
 

2 comentários:

  1. Em rápida procura no Google, facilmente se encontram diversas páginas divulgando o potencial da farinha de feijão branco para o emagrecimento mais rápido, conferindo esse efeito à presença da faseolamina em sua composição. Na tentativa de envolver o consumidor incitando-o na compra de produtos, páginas comercializam a farinha sugerindo o uso para emagrecimento sem, no entanto, apresentar um registro para comercialização, conforme as resoluções da ANVISA. Porém, estas páginas não fornecem qualquer tipo de informação sobre contraindicação, efeito adverso ou tempo máximo de uso. O perigo está no fato de o consumidor acreditar que, assim como (erroneamente) qualquer outro produto natural, não existem restrições de uso. Só que o uso abusivo e/ou a longo prazo potencializa os riscos de efeitos adversos tal como discutidos no texto. E mais ainda, há a dificuldade de conseguir relacionar a farinha, teoricamente inofensiva, ao quadro de desnutrição, a menos que um profissional de saúde mais atento conheça e identifique o uso da farinha pelo usuário e o potencial dela para desnutrição, principalmente se houver medicamentos envolvidos. Não se deve esquecer, também, se a farinha estiver associada em formulações que prometem o emagrecimento juntamente com pós ou extratos de outras plantas, dificultando ainda mais a identificação da origem do problema e aumentando riscos de danos hepáticos e renais.

    Ana Carolina F. B. da Silveira

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  2. A farinha de feijão branco se popularizou por suas propriedades funcionais e efeitos hipoglicemiantes devido à faseolamina conservada no grão cru. Em contrapartida, feijões crus têm compostos antinutricionais que podem atrapalhar na absorção de Fe, por exemplo. Não foi encontrada na literatura a quantidade permitida da ingestão de sua farinha e nem os efeitos adversos e contraindicações.
    A partir disso podemos concluir que mais estudos devem ser feitos para alertar o consumidor e esclarecer sobre os prós e contras de se consumir um “alimento natural”.
    Dependendo da sugestão de uso, o alimento poderá ter alegações de propriedades funcionais ou de saúde. Isto será determinante sobre qual legislação entrará em vigor para tal alimento. De acordo com a RDC nº 27/2010 da ANVISA, as farinhas em geral estão isentas da obrigatoriedade de registro sanitário.
    Muitas empresas enquadram suas farinhas apenas como produto alimentício porque a partir do momento que alegarem as propriedades funcionais e de saúde o alimento deverá ser registrado junto ao órgão competente e atender às legislações mais rígidas.

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